"O todo sem a parte não é todo; A parte sem o todo não é parte; Mas se a parte o faz todo sendo parte, Não se diga que é parte, sendo todo."
Nesse fragmento do poema, Padre Antônio fala sobre coisas
partidas e inteiras e faz um jogo de palavras com as mesmas. Padre Antônio quis
passar a mensagem de que, se não houvesse a parte, não havia o todo, pois não
haveria como saber o que é o todo se houvesse apenas a parte, e assim vice
versa. Isso também vale para sentimentos, como felicidade e tristeza. Nesse
caso, nós não poderíamos saber o que é ser feliz se houvesse apenas a tristeza.
Para algo existir, é preciso o seu contrário, pois senão não saberíamos a
diferença entre os dois.
Também nesse fragmento, ele diz que não
podemos dizer que algo é parte, se é um todo. Por exemplo: não podemos dizer
que somos meio amados, quando somos inteiramente amados, é desmerecimento.
Então, como o autor era um padre, provavelmente ele está se direcionando á
religiosidade. Não se pode acreditar em mais de um deus (as “partes”), quando
há somente um supremo no mundo (o “todo”).
Padre Antônio Vieira, foi um religioso,
escritor, filósofo e orador português nascido em Lisboa. Ele foi uma grande
imagem no Brasil colonial no século XVII, se destacando na política e oratória,
sendo um dos maiores escritores de seu século.
Como religioso, defendeu por demais os
direitos indígenas, combatendo a exploração de suas terras e sua escravização e
catequizando-os. Por eles, era chamado de “Paiaçu”, palavra de origem tupi que
significa “grande pai”. Ele também defendia os judeus, se opondo à distinção de
cristãos novos (judeus convertidos) e cristãos velhos (católicos tradicionais)
e também era contra a escravatura indígena. Também fez críticas aos sacerdotes
de sua época e se opôs á Inquisição.
Escreveu cerca de 500 cartas e profecias e
200 sermões, que são extremamente essenciais para a literatura brasileira,
muito importantes para o barroco brasileiro e português, sendo muito utilizados
em universidades, que exigem sua leitura.
Padre Antônio se fixou em Salvador, na Bahia
quando tinha apenas 6 anos e a partir dos 15 ingressou na Companhia de Jesus.
Além de ter estudado teologia, também estudou física, metafísica, matemática,
economia e lógica.
Em 1661, foi obrigado a deixar o Maranhão,
pois foi pressionado pelos senhores de escravos que não concordavam com sua oposição
à escravidão indígena. Então, voltou para Lisboa, onde nasceu. Contudo, foi
condenado pela inquisição por seus manuscritos heréticos de 1665 a 1667. Viveu
em Roma até 1676 e em 1681 voltou para o Brasil e passou a dedicar-se à
literatura. Morreu aos 89 anos, a Bahia.
O poeta faz comparações entre o amor da mulher com ele e outras pessoas. A moça é quente com outros homens e se esfria quando chega perto dele, o que leva-o a desejar um pouco da morte. Ela seria fogo ardente e, nesse mesmo fogo, a mesma se acabava. Enquanto ele, ficava na brasa que restava, queimando-se; eram completamente contrários.
O eu lírico deseja imensamente a luz, mas esta é inalcançável, pelo menos enquanto as diferenças entre ele e a amada o fizerem chorar. Mesmo, em alguns momentos em que queimam juntos, não são completamente iguais...um grande fardo, mas não para ambos, apenas para o que possui o amor fiel.
Gregório de Matos (1636-1695) foi um poeta brasileiro. Desenvolveu uma poesia lírica e religiosa, mas se destacou por sua poesia satírica, recebendo o apelido de "Boca do Inferno".
Gregório de Matos (1636-16965) nasceu em Salvador, Bahia, no dia 23 de dezembro de 1636. Filho de pai português e mãe baiana, frequentou o Colégio da Companhia de Jesus. Foi estudar na Universidade de Coimbra. Em 1661 já está casado e formado em Direito. Neste mesmo ano, é nomeado juiz em Alcácer do Sal, no Alentejo. Volta à Salvador, nomeado procurador da cidade, junto a corte portuguesa. Fica viúvo e casa-se novamente.
Além de grande poeta, fez também um trágico retrato da vida e da cultura baiana do século XVII. Como não havia imprensa no Brasil Colônia, seus poemas tiveram circulação escrita e oral. Sua produção poética pode ser dividida em três linhas: satírica, lírica e religiosa. Seus poemas líricos e religiosos revelam influência do barroco espanhol. Sua poesia satírica é do tipo que ataca sem compostura, toda a sociedade baiana, da qual ele se sentia um censor e uma vítima. Por suas críticas ferinas, recebeu o apelido de "Boca do Inferno".
Em 1694, por suas críticas violentas e debochadas às autoridades da Bahia, é degredado para Angola. Em 1695 recebe permissão para voltar ao Brasil, mas não para a Bahia. Vai viver na cidade do Recife.
Gregório de Matos Guerra morreu no Recife, no dia 26 de novembro de 1695.
Gregório de Matos não publicou nada em vida. A totalidade de sua obra se manteve inédita, até quando Afrânio Peixoto a reuniu em 6 volumes, publicados no Rio de Janeiro, pela Academia Brasileira de Letras, entre 1923 e 1933, sob o título de "Obras de Gregório de Matos".
Algumas de suas obras:
I. Sacra :
Gregório de Matos é amplamente conhecido por suas críticas à situação econômica da Bahia, especialmente de Salvador, graças à expansão econômica chegando a fazer, inclusive, uma crítica ao então governador da Bahia Antonio Luis da Camara Coutinho. Além disso, suas críticas à Igreja e a religiosidade presente naquele momento. Essa atitude de subversão por meio das palavras rendeu-lhe o apelido de "Boca do Inferno", por satirizar seus desafetos;
Ex:
Soneto a Nosso Senhor
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinquido Vos tem a perdoar mais empenhado.
Se basta a voz irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido: Que a mesma culpa que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história.
Eu sou, Senhor a ovelha desgarrada, Recobrai-a; e não queirais, pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória.
II. Lírica :
Em sua produção lírica, Gregório de Matos se mostra um poeta angustiado em face à vida, à religião e ao amor. Na poesia lírico-amorosa, o poeta revela sua amada, uma mulher bela que é constantemente comparada aos elementos da natureza. Além disso, ao mesmo tempo que o amor desperta os desejos corporais, o poeta é assaltado pela culpa e pela angústia do pecado.
Ex:
À mesma d. Ângela
Anjo no nome, Angélica na cara! Isso é ser flor, e Anjo juntamente: Ser Angélica flor, e Anjo florente, Em quem, senão em vós, se uniformara:
Quem vira uma tal flor, que a não cortara, De verde pé, da rama fluorescente; E quem um Anjo vira tão luzente, Que por seu Deus o não idolatrara?
Se pois como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda, Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que por bela, e por galharda, Posto que os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
IV e V. Satírica : Gregório de Matos é amplamente conhecido por suas críticas à situação econômica da Bahia, especialmente de Salvador, graças à expansão econômica chegando a fazer, inclusive, uma crítica ao então governador da Bahia Antonio Luis da Camara Coutinho. Além disso, suas críticas à Igreja e a religiosidade presente naquele momento. Essa atitude de subversão por meio das palavras rendeu-lhe o apelido de "Boca do Inferno", por satirizar seus desafetos
Ex:
Triste Bahia
Triste Bahia! ó quão dessemelhante Estás e estou do nosso antigo estado! Pobre te vejo a ti, tu a mi abundante.
A ti tricou-te a máquina mercante, Que em tua larga barra tem entrado, A mim foi-me trocando e, tem trocado, Tanto negócio e tanto negociante.
Cacterísticas:
A poesia de Gregório de Matos é religiosa e lírica. Absolutamente conforme com a estética do Barroco, abusa de figuras de linguagem; faz uso do estilo cultista e conceitista, através de jogos de palavras e raciocínios sutis. As contradições, próprias, talvez, de sua personalidade instável, são uma constante em seus poemas, oscilando entre o sagrado e o profano, o sublime e o grotesco, o amor e o pecado, a busca de Deus e os apelos terrenos.
É mais conhecido por sua sátira ferina, azeda e mordaz, usando, às vezes, palavras de baixo calão, daí seu apelido: Boca do Inferno. Critica todos os aspectos da sociedade baiana, particularmente o clero e o português. A atitude nativista que disso resulta é apenas conseqüência da situação na Colônia brasileira;
Agora, um pequeno vídeo falando um pouco mais sobre Gregório de Matos, o poeta "Boca do Inferno":
"Os homens não amam aquilo que cuidam que amam. Por quê? Ou porque o que amam não é o que cuidam; ou porque amam o que verdadeiramente não há. Quem estima vidros, cuidando que são diamantes, diamantes estima e não vidros; quem ama defeitos, cuidando que são perfeições, perfeições ama, e não defeitos. Cuidais que amais diamantes de firmeza, e amais vidros de fragilidade: cuidais que amais perfeições Angélicas, e amais imperfeições humanas. Logo os homens não amam o que cuidam que amam. Donde também se segue, que amam o que verdadeiramente não há; porque amam as coisas, não como são, senão como as imaginam, e o que se imagina, e não é, não o há no mundo." Neste trecho o Padre António Vieira quis mostrar, como o amor às vezes é tão vazio e imaginário. Ele vai dizer que amamos as coisas, conforme achamos que elas são. Imaginamos algo, por exemplo, alguém por quem está apaixonado. Você não enxerga totalmente os defeitos da pessoa amada, o(a) imagina como queria que a pessoa fosse, pelo simples fato de amá-la. Você acabaria se apaixonando, não pela pessoa realmente, mas sim por quem imagina que fosse. Por isso o amor se torna imaginário, por estar amando coisas imaginárias. Podemos entender melhor, neste último trecho: "porque amam as coisas, não como são, senão como as imaginam, e o que se imagina, e não é, não o há no mundo." que resume bem todo esse sermão.
"O amor fino não busca causa nem fruto. Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que me amem, tem fruto: e amor fino não há-de ter porquê nem para quê. Se amo, porque me amam, é obrigação, faço o que devo: se amo, para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há-de amar o amor para ser fino? Amo, quia amo; amo, ut amem: amo, porque amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam é agradecido. quem ama, para que o amem, é interesseiro: quem ama, não porque o amam, nem para que o amem, só esse é fino."
(Padre Antônio Vieira - Sermões) Análise sobre o texto: O texto fala sobre o amor e as diferentes formas de amar, sejam elas por interesse ou por obrigação. Porém o 'Amor Fino' é aquele que não demonstra nenhum tipo de sentimento que não seja o verdadeiro, aquele que não busca sentimentos falsos e nem retribuições, apenas busca amor por amor, um modo de amar que não precisa dos motivos, nem de questionamentos, apenas sentimentos.
❤ Deixe seus recadinhos e sugestões nos comentários. ❤