Basílio

14 de novembro de 2016

Análise 12: Caramuru Canto I: XVI,XVII,XVIII (Frei José de Santa Rita Durão)

TEXTO:

XVI

Mas, vendo a Sancho, um náufrago que expira,
Rota a cabeça numa penha aguda,
Que ia trêmulo a erguer-se e que caíra,
Que com voz lastimosa implora ajuda;
E vendo os olhos, que ele em branco vira,
Cadavérica a face, a boca muda,
Pela experiência da comua sorte
Reconhecem também que aquilo é morte.

XVII

Correm, depois de crê-lo, ao pasto horrendo,
E, retalhando o corpo em mil pedaços,
Vai cada um famélico trazendo,
Qual um pé, qual a mão, qual outros os braços;
Outro na crua carne iam comendo,
Tanto na infame gula eram devassos;
Tais há que as assam nos ardentes fossos,
Alguns torrando estão na chama os ossos.

XVIII

Que horror da humanidade! ver tragada
Da própria espécie a carne já corruta!
Quando não deve a Europa abençoada
A fé do Redentor, que humilde escuta!
Não era aquela infâmia praticada
Só dessa gente miseranda e bruta:
Roma e Cartago o sabe no noturno
Horrível sacrifício de Saturno.

ANÁLISE:

  Caramuru é a obra mais famosa do Frei José de Santa rita Durão. É um poema épico que narra, em 10 contos, a vida de Diogo Álvares Correia, um naufrago que viveu em meio aos Tupinambás.
  O Canto I narra o começo da história, com o naufrágio e o primeiro encontro com os índios, e introduz o "herói" e o "cenário". A partir da décima sexta estrofe é narrada esse primeiro contato.
  Nessas estrofes o eu-lírico narra, com bastantes detalhes, a morte de um naufrago, que pede implora por ajuda ao bater a cabeça em uma rocha pontiaguda mas não resiste. Os índios, famintos, partiram o corpo em vários pedaços e o comeu, deixando Caramuru horrorizado.

  O poema foi o primeiro a abordar os habitantes nativos do Brasil, dando dados sobre a colonização, sobre a fauna e a flora, costumes e tradições indígenas e sobre a paisagem brasileira. Também cita as invasões francesas e holandesas e a divisão do pais em capitanias. Uma das coisas que se destacam é a exaltação exagerada às terras brasileiras e a presença de mitos pagãos.
  Caramuru segue o modelo Camoniano, com dez cantos, estrofes de oito versos e esquema de rimas ABABABCC.

  Em 2001 foi lançado um filme brasileiro com o nome "CARAMURU - A INVENÇÃO DO BRASIL" o qual o trailer pode ser assistido clicando aqui.

Sítios Consultados:

- http://www.casadatorre.org.br/caramuru.html#2
- http://www.soliteratura.com.br/arcadismo/arcadismo04.php

- http://www.passeiweb.com/estudos/livros/caramuru

Análise por: Isabelle Soares

9 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Podemos observar, que o "Caramuru" possui elementos tradicionais do gênero épico, por mostrar a visão de uma sequência histórica. Além disso, temos características próprias do Arcadismo, como a objetividade. No entanto, o poema aborda Diogo Álvares Correia e seu envolvimento com as índias.
    Confesso que demorei um pouco para entender, por ser um poema com muita complexidade, porém, gostei muito <3

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Ele mostra como os índios também reconhecem a morte do mesmo modo que eles, porém, há um hábito diferente: comer carne humana(como o citado na análise).
    Podemos ver o nojo sentido pelo autor com relação aos nativos brasileiros quando ele se refere a estes como um "horror da humanidade" e os acusa de serem pecadores/devassos("Tanto na infame gula eram devassos").
    Nessa obra temos a possibilidade de ver, assim como em muitas outras, detalhes vindos da mitologia pagã como o presente no trecho "Horrível sacrifício de Saturno". Saturno(de acordo com uma das histórias) foi mutilado por Júpiter, o único filho que não fora engolido pelo deus. Assim, o poeta compara o marinheiro com o senhor do tempo(também como Saturno ficou conhecido).

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  5. Este é um poema de difícil entendimento, confesso que levei um tempo pra poder entendê-lo. Sua explicação ficou muito boa, Isabelle, porém, você não citou algumas características do Arcadismo. As que eu pude notar, foram o uso da mitologia pagã, a qual a Lara já falou ali encima, a denotação da pureza dos nativos brasileiros e a expressão de sentimentos de espanto e repúdio do eu-lírico. Foi um ótimo trabalho, gostei bastante da sua análise.

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  6. Na obra Caramuru, Frei José de Santa Rita Durão utiliza de um vocabulário rebuscado, assim, com sua análise consegui entender melhor oque o autor queria passar. Na obra podemos perceber elementos do gênero épico e também características do Arcadismo, como objetividade na escrita, e como já dito por o uso da mitologia pagã.
    Ótima análise, Isabelle!

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  7. Ao ler o poema, percebi algumas coisas, entre elas, o uso da mitologia pagã. No poema o autor usa Saturno. Ele seria um Titã, equivalente a Cronos.

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  8. Caramuru, por ser um poema épico, é bastante extenso. Por isso é preciso pesquisar para entendê-lo, pois apenas alguns trechos não nos permitem esse entendimento. Danilo, o vocabulário não é rebuscado.

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