Basílio

13 de novembro de 2016

"Cartas Chilenas", de Tomás Antônio Gonzaga

As Cartas Chilenas(verdadeiramente, mineiras) são 13 cartas satíricas escritas por Critrilo (pseudônimo do autor Tomás Gonzaga, que por muito tempo ficou obscuro) relatando os desmandos, atos corruptos, nepotismo, abusos de poder, falta de conhecimento e tantos outros erros presentes no governo do “Chile” (que, na verdade, é a cidade de Vila Rica), comandada pelo "Fanfarrão Minésio"(Luís da Cunha Meneses). Elas circularam anonimamente em Vila Rica, entre 1787 e 1788 e foram escritas às vésperas da rebelião da Inconfidência Mineira.
Sendo anônimo o poema e permaneceu inédito até 1845, houve dúvida quanto à sua autoria, embora a tradição mais antiga apontasse Gonzaga sem hesitação. Falou‐se depois em Cláudio, em Alvarenga Peixoto(todos participantes da Inconfidência Mineira, por isso tantas hipóteses)
São sempre dirigidas a "Doroteu"(ninguém menos que Cláudio Manuel da Costa):
“Amigo Doroteu, prezado amigo,
Abre os olhos, boceja, estende os braços
E limpa, das pestanas carregadas,
O pegajoso humor, que o sono ajunta.
Critilo, o teu Critilo é quem te chama;
Ergue a cabeça da engomada fronha
Acorda, se ouvir queres coisas raras”

Neste trecho, Citrilo chama o amigo para limpar-se(da sujeira do governo, talvez) e incentiva-o a se erguer(“abre os olhos”) e lutar(coisa rara, por conta do medo criado pela metrópole).  E, podemos concluir que, há um estímulo ao combate.  
As cartas foram escritas em decassílabos sem rimas e cada uma tem um foco principal, mas seu personagem principal sempre é o governador. Alguns dos temas foram: a entrada de Fanfarrão no Chile; a fingida piedade inicial deste a fim de angariar negócios; suas violências e injustiças; o casamento do futuro rei d. João 6º e Carlota Joaquina; as desordens e brejeirices de Fanfarrão.
Logo no prefácio, temos uma “ameaça” e zombaria feitas para o governador:
"Um D. Quixote pode desterrar do mundo as loucuras dos cavaleiros andantes; um Fanfarrão Minésio pode também corrigir a desordem de um governador despótico
 Na terceira carta, as injustiças e violências que Fanfarrão executou por causa de uma cadeia são denunciadas:
" Pretende, Doroteu, o nosso chefe
erguer uma cadeia majestosa
que passa escurecer a velha fama
da torre da Babel e mais dos grandes,
custosos edifícios que fizeram,
para sepulcros seus, os reis do Egito. "
A cadeia seria tão grande que as maiores construções virariam sombras no passado, a fama da torre de Babel cairia e daria lugar para a cadeia e as mais belas e gigantescas pirâmides não seriam nada perto da prisão.
A influência dos iluministas franceses se mostra clara aqui. Gonzaga teria se inspirado no estilo satírico de Voltaire e nas Cartas Persas (1721), do Barão de Montesquieu (1689‐1755). Na obra do Barão, há também críticas ao governo francês e mostra o cotidiano das pessoas da época, assim como em Cartas Chilenas.

Um pouco de história:
Iluminismo: foi um movimento global(filosófico, político, social, econômico e cultural) que defendia o uso da razão como o melhor caminho para se alcançar a liberdade e a autonomia.
Os iluministas defendiam a criação de escolas para que o povo fosse educado e a liberdade religiosa(a Igreja Católica ainda tinha forte domínio perante a educação, cultura, governo, etc) . Para divulgar o conhecimento, os iluministas idealizaram e concretizaram a idéia da Enciclopédia (impressa entre 1751 e 1780) e nesta, todo conhecimento possuído até então foi resumido.
A enciclopédia foi símbolo de renovação cultural que tinha à frente D'Alembert, Diderot e Voltaire. Os enciclopedistas deram grande impulso ao desenvolvimento das ciências.
O iluminismo foi um movimento de reação ao absolutismo europeu e o nome faz referência ao período de iluminação crítica e científica que estava sendo vivido. O movimento utilizou da razão no combate a fé na Igreja e a idéia de liberdade para combater o poder centralizado da monarquia. E, a partir do iluminismo, surgiu outro movimento: o liberalismo(voltado para política e economia).

Glossário:
Brejeirices: 1.qualidade do que ou de quem é brincalhão, alegre.
2.graciosidade ger. acompanhada de extroversão e certa malícia.
Desterrar: 1.fazer sair ou sair alguém de sua terra natal ou de domicílio; exilar(-se), expatriar(-se)
2.confinar(-se) [alguém] em desterro, voluntariamente ou por força de condenação; isolar(-se).
Despótico:   1.relativo a ou próprio de déspota ou despotismo
 2.em que há despotismo.
 Despotismo: 1.poder isolado, arbitrário e absoluto de um déspota.
2.p.ext. forma de governo baseada nesse poder.

Sítios Consultados:


Postado por: Lara Machado

Um comentário:

  1. Gostei muito, mas queria ver comentários também. Preciso ter certeza de que todos os integrantes entenderam as Cartas Chilenas.

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